sexta-feira, janeiro 27

Coisas e Puncarias

Estava para aqui a pensar nisto.. ainda há quem me leia nestas entrelinhas feias que aqui deixo. Masturbação psíquica que não leva a lado algum, é apenas e tão só isso que pesquisam... posso escrever penalti com seis palavras (marcação de livre de grande penalidade) ou gritar bem alto que sei o sentido da vida, desde que não o partilhe com ninguém.. e é precisamente isso que melhor sei fazer.

"This way, follow me" por Valter Elias
Tenho uma caixinha de surpresas vazia, de onde retirei o papel precioso que a enchia (olha, estraguei a minha surpresa) para a encher de boas lembranças. Não que o papelito fosse feio, ou tivesse dizeres com maus. Não era nem tinha. Era um papelito bom, com dizeres bonitos... dizia que eu era muito engraçado, mas de uma forma e com um jeitinho tal!!! Até eu acreditei nesse tal de papelinho.

"Ilumina-me na imensidão azul" por Pedro Moreira
E agora, senhores da recta descendente, a estrada que todos os dias me guia torceu-se e retorceu-se... disse-me um dia: "Sou Hiv +". Na boa, consigo perceber que alguém tenha de me transmitir esta informação sem eu a ter pedido. Mais nada agóia, só um pensamento difuso em forma de caracol... era uma espiral desmesurada que se avolumava na minha cabecita.. eram dois passos largos, largos demais para a perna e para o pé que os quis dar, como se a estrada corresse debaixo de mim, para me ver estatelar ali tão perto, sobre ela com dois pingos de sangue esfarrapado naquele empedrado de alcatrão.

"Juízo Final" por Luís Pinto
Soube-me conhecer, soube-me escutar, apreendeu coisas tais que a vida não explica, coisas mais que as palavras não existem para as descrever, ainda que se soubesse fazê-lo. Não me soube ver, tal como fui... na minha segurança infalível, qual ilha remota onde miras uma réstia de esperança para a vida que te foge e escorre pelas frestas de quatro dedos, não me distinguiu a faísca que o vírus fez renascer no meu canto de olho verde marado, e nem percebeu que me doeu. Tanto que nem quis saber da sua mágoa, da sua tolerância à injustiça. Vi que sei errar de uma forma quase correcta, sem que ninguém me note... e não me sinto já engraçado, apenas um ponto seguro para mim, somente para mim e mais ninguém. Nem para ti que me dizes ter a vida a prazo, presa por dois remédios que ousas não tomar, em desafio idiótico ao mundo dos grandes. Sabes mais que a vida, sim senhor. Sabes de entrega, de devoção, de amores de mágoas, de dores de coração, sabes da vida, sabes sofrer, sabes chegar para cá ficar! Dói-me esta partida imposta que ainda não chegou, para a qual contamos os dias que me custam a passar pelo teu sofrimento (que mais hão-de custar pela tua ausência), mas que não te custam nem te dóem, tu que dás o tempo ao mundo e a quem o mundo tirou tempo demais, foges de mim quando converso com tristes, e corres por mim se nem me chego a levantar. Ris por mim, sentes mais num segundo que eu sei sentir o ano inteiro, porque vais e porque sabes mesmo que é esse o teu destino. Falas-me de uma sorte que não chegas a conhecer, porém anseias para que seja eu a crer nela... não te percebo, não te sei ver com estes novos olhos. És tu aqui deitado a chorar as minhas lágrimas, queres ser eu aí pertinho, mirando pela janela os putos que correm ao dentista com as mães enganadas e os pais de gravatas bordeaux. Eras tu aquele puto ainda há tão pouco... que nos sentámos a falar de dias que vêm, que discutimos sentados Deus e o sagrado, sexo e as miúdas... contei-te tudo para que morresse contigo, mas não queria mesmo que fosse assim.

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