quinta-feira, abril 14

SE


Se podes conservar o teu bom senso e a calma,
Num mundo a delirar para quem o louco és tu;
Se podes crer em ti, com toda a força da alma,
Quando ninguém te crê; Se vais faminto e nu,
Trilhando sem revolta um rumo solitário,
E à turva intolerância, à negra incompreensão,
Tu podes responder, subindo o teu calvário,
Com lágrimas de amor e bençãos de perdão;

Se podes dizer bem de quem te calunia;
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor,
Mas sem a afectação dum santo que oficia,
Nem as pretensões de sábio a dar lições de amor;
Se podes esperar sem fatigar a esperança;
Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho;
Fazer do pensamento um arco de aliança
Entre o clarão do inferno e a luz do céu risonho;

Se podes encarar com indiferença total,
O triunfo e a derrota - eternos impostores;
Se podes ver o bem oculto em todo o mal
E resignar, sorrindo, o amor dos teus amores;
Se podes resistir à raiva ou à vergonha
De veres envenenada a frase que disseste
E que um velhaco emprega, eivada de peçonha,
Com falsas intenções, que tu jamais lhe deste;

Se és Homem para arriscar todos os teus haveres
Num lance corajoso, alheio ao resultado,
E, calando em ti mesmo a mágoa de perderes,
Voltas a palmilhar todo o caminho andado;
Se podes ver por terra as obras que fizeste,
Vaiadas por malfeitores, desorientando o povo,
E sem dizeres palavra e sem um termo agreste,
Voltares ao princípio, a construir tudo de novo;

Se podes obrigar o coração e os músculos,
A renovar o esforço, há muito vacilante,
Quando já no teu corpo afogado em crepúsculos,
Só existe a vontade a comandar "avante";
Se, vivendo entre os pequenos, és virtuoso e nobre,
Ou vivendo entre os grandes conservas a humildade;
Se inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre,
São iguais para ti, à luz da eternidade;
Se quem conta contigo encontra mais que a conta;
Se podes empregar os sessenta segundos
Dum minuto que passa, em obra de tal monta
Que esse minuto se espraia em séculos fecundos;

Então, ó ser sublime, o mundo inteiro é teu;
Já dominaste os tempos e os espaços;
Mas ainda para além um novo sol rompeu
Abrindo um infinito ao rumo dos teus passos;
Pairando numa esfera acima deste plano
Sem recear jamais que os erros te retomem,
Quando já nada houver em ti que seja humano,
Alegra-te meu filho,
Então, serás um HOMEM!

Titulo original - "If", de Rudyard Kipling (Escritor e poeta inglês do séc. XIX)
Tradução de Félix Bermudes (adaptado - a melhor tradução ever!)

2 comentários:

Anónimo disse...

Kipling sabia bem o que dizia :) Diz muito de nós mesmos as citações que escolhemos. Gostei de ver o que escolhes :) Beijo grande :)

mau anónimo disse...

quase jurava q foi enquanto estava no cafézito a ler os classificados do dn e se deparou com isto escrito numa mesa.. quase.. :P

abraçoleziú