sábado, março 26

Marés

Não falo de marés vivas, falo de eras...
dos tempos que choramos por não entender o mundo,
das vivências realmente impossibilitantes de sorrisos sinceros...

Sou eu quem vos diz que a mágoa é um sentimento avassalador,
que o coração tem um espaço infindável para albergar sentimentos feios e maus!
O meu, o vosso, o dela.

Quem de nós acorda noite após noite,
mergulhado no suor de corridas deitadas,
imerso em gritos escuros de noite,
lavado por lágrimas de dores tão mais intensas e vividas que as de quem chora entes queridos?

Quem sente a saudade como um todo que nos devora o espírito e o ser,
quem de vós ama algum ser mais que a vida
E o vê escorregar, mês após mês,
por entre as frestas de dez dedos
incapazes de suster com firmeza argumentos coerentes que vos sustenham como alguém,
que a façam levitar a vosso lado,
tal amiga, companheira e amante que vos jurou para a eternidade?!?!

Sou eu,
pessoa de infindáveis argumentos,
que na minha inconsistente personalidade
deixei a vida tomar-me de assalto e cercar-me de inimigos invisíveis,
camuflados de palavras meigas, traições confessas e gentis desembaraços.

Vi isto a meu lado,
face a face com gritos ocos que desesperadamente ousei dizer,
enquanto corri de frente para o que me pareceu ser um abismo desconhecido.

Não conheço quem não conte isto de mil e uma maneiras, melhor que eu,
com sentimentos mais friamente expostos, mais bem relatados...

Também eu senti o fim de um Amor,
também a mim me doeu como a merda,
fiz mil e um disparates para evitar o inevitável,
irritei-me para não ter de aceitar o que tinha mesmo de ser!

Só porque,

como eu e tantas outras pessoas,
recusei-me a acreditar que o resto do mundo tinha razão,
que não se pode crer em amores eternos

nem em amores perfeitos,
mesmo quando o vivemos e o temos à frente dos nossos olhos.
Ninguém é digno dessa honra,
de ser tratado como sentido de vida alheia;

tal força
que nos nasce quando somos apaixonados por alguém,
a mesma devemos ter quando não o somos...

porque na força da solidão nos encontramos mais fortes,
mais cientes de nós próprios.

Eu creio em mim,
todo poderoso,
criador das mais lindas histórias de embalar,
das mais gentis festas e carinhos,
possuidor do maior e mais lindo ego do mundo inteiro e arredores,
e sou tão mais crente naquilo que digo quanto mais só me sinto!

Por isso desesperar é feio,
o pânico é feio,
amar hoje esta e amanhã aquela,
é saber acima de tudo que quem realmente importa somos nós individualmente,
e quem está bem pode ficar mas se se for (por bem ou por mal)
também não tem problema,
porque o que mais custa
é a vez que de facto acreditamos...

Eu deixei de acreditar em contos de fadas há muito,
e custa-me ver tantas e tantas pessoas,
que deixaram hoje e ontem de viver a ilusão,
que ainda querem com todas as forças crer

que vive o que morreu..

Custa passar, mas vale mesmo a pena deixar de acreditar - esta é uma boa lição!

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá
Primeiro que tudo obrigada por teres passado no meu Blog e por teres deixado comentário.
Estive a ler o teu ultimo post, adorei, sem duvida algumas coisas batem certo... mas deixo a pergunta: será que é certo deixar de acreditar em contos de fadas? Sim a realidade é dura, mas é real, mas quem sabe os contos de fadas não sejam também eles reais... basta querer muito, muito, muito...
Beijo

Elsa disse...

No mundo do real a ilusão que criamos com os olhos do coração é doce, porque perfeita! Não acreditar! Não se acredita até ao renascer de uma semente adormecida pela dor, pelos anos, pela amargura...ao rebentar da semente virgem regada de amor, mesmo contra a força do ego, da vontade e do mundo, as fadas voltam... se não voltarem amigo, deixaremos de ser pessoas saudaveis!!!!
Beijo