Retrato muito pouco fiel da vida de algum ilustre desconhecido, que perdido numa imaginação doentia, se afoga docemente embalado pela corrente do vazio... assim começou.
segunda-feira, setembro 29
We Got Lost Inside Ourselves, We May Never Get Out
"cresciam-lhe os dedos para fora das mãos, saíam delas, perdiam-se dele.
era uma coisa que não conseguia explicar nem perceber, nem se preocupava com isso, verdade seja dita. até porque isto dos dedos não era a única das estranhezas do seu corpo.
podia passar dias sem comer, sem que a fome o pertubasse, em algum momento ela viria e então saciava-se, sem prever quando voltaria a fazê-lo. o mesmo com o sono. o mesmo com a sede. o mesmo com a barba, que lhe tomava a cara de uma hora para a outra ou se sumia durante meses.
os dedos eram assim, desapareciam por tempos. iam em reconhecimentos distantes e regressavam com avisos dos caminhos a percorrer e traziam memórias dos rostos por beijar e por sofrer.
por isso, quando chegava a um sítio, ou se cruzava com alguém, olhava demoradamente para as mãos, para os dedos, roía unhas em segredos de conspiração. e perguntava-se, ou perguntava-lhes, aos dedos, é seguro olhar? queima?"
daqui.