sábado, abril 30

Nightmare in Manchurai

Já não venho deixar algo aqui há muito tempo.. sei que os nossos milhões de leitores perdoarão esta crise artística, sendo que muitos terão também a delicadeza de perdoar o meu regresso.

Vejo o País em crise económica, política e de valores. Sei que hoje estamos mais perto de um caminho, é necessário reconhecer o problema para o resolver. Por outro lado, não sei se o estado desta nação ainda será um problema visto que os problemas só o são, quando existem soluções. Não me vou perder neste tema, prometo.

Ora a minha última missão apresentou-me outras formas de pensar e de actuar. O mau génio, afinal, abre uma pequena porta para a sensatez, por pouco racional que isso possa parecer. O segredo parece estar na dose, que para surtir semelhante efeito, deverá roçar o limite da paciência do interlocutor, mantendo contudo a boa-educação e uma interpretação acutilante da palavra.

Lembrei-me de falar sobre o acordo ortográfico, porque aqui escrevo no Português que a Professora Ascensão me ensinou. Não sou animal de manter muitos laços com o passado, mas espero no meu íntimo, que ela não saiba ensinar segundo os novos preceitos. Desejo saber Inglês, escrever Inglês e jamais aprender a perdoar a existência de mais um acordo ortográfico.

Ouço putos que já não têm fisgas brincarem, ouço crianças a correr sobre o asfalto em skates e grupos, meninas sem vergonha que trocaram as bonecas por enfeites tais que não existiam desta forma desprovida de valor, quiçá de sentido.

Ainda se corre, mas os motivos da pressa são outros. Agora ando zangado com os pombos que me sujam o carro e com o bolo estragado que me foi servido. Que bolo descarado!

O periquito também é um transtorno, ora está limpo ora não está. Pia muito durante o dia, especialmente se está sol.

À noite já não é tanto assim, e reservo uma hora para tratar do estranho ser que habita a minha sala. Se não estiver satisfeita, incha a barba e muda de cor. Dou-lhe espaço então, entendo perfeitamente a necessidade do bichito. Abastecer de água e minhocas, grilos vivos e agrião, dar injecções de cálcio(!!!!), controlar temperatura e humidade, limpar e alimentar o alimento(!).. amanhã haverá mais. Não me dá muito em troca, mas não ficou de dar. Esta frontalidade é importante no nosso relacionamento, e tem sido isso que fortaleceu a nossa ligação.

O hoje que vivo, devolve-me a simpatia que nunca lhe ofereci. Abraço-a com agrado, e com fervor. É-me indiferente quem passa, desde que o faça. Sempre imaginei um sentir diferente. Um baixo ecoa forte na paisagem. Em todas as paisagens se reflecte e ecoa. Adorno de ouvido mal parido, parte-me o juízo e envolve-me em desassossego.

Aguardo, escuto.

Sinto.