domingo, dezembro 11

Friends will be friends


"Welcome to my concrete jungle"

O meu daltonismo é preocupante, não vejo a cor da pele desde que me tornei lúcido, e já lá vão quase 30 anos!




Vejo duelos interessantes, oiço músicos diferentes. Os amigos existem para as ocasiões. Vejam esta cena linda de um filme no qual investi algum do meu tempo:




Friends will be friends. Repararam no fim?


segunda-feira, setembro 5

60 minutos

Este foi um dos meus dias. A minha casa tem vida própria, e há coisas que não sabemos explicar sem magoar um pouco (e o sentido desta ironia, alguém o conhece?).
Sinto que assim está mal, e tento dizer melhor - e por vezes sou mesmo capaz! Tantas vezes tal não sucede, e finjo entender semelhante loucura.
Aceito-a, não sei porquê. Depois haverá sempre inúmeras variáveis que não conseguimos calcular. O instinto surripia-nos o suposto livre arbítrio, e divagamos sobre a nossa "opção".
Eu gosto de optar, mas sou um ser altamente instintivo. As cores, as emoções e a justificação razoável, suportam o que o raciocínio não escolheu.


Há coisas que não fazem sentido, o mundo gira apesar de tudo. Podemos esconder quem somos mas não é possível guardar em nós o que fomos.

Tudo tem o seu valor, e o que trazemos do passado connosco, o que recordamos perante um qualquer aroma... nunca vos aconteceu? No meio do escritório, parei e recordei algo precioso do meu passado.


Depois disto, não restariam muitas palavras. Puro Engano!

Sedutora experiente, a saudade do nada traduz-se num amor a tudo o que nos é próximo. Esses somos nós, sem embustes. Não nos serena o correr do rio sem antes deitar e abraçar o nosso amor.

Trago comigo a espada da minha razão, e ergo-a com vontade tal que não pode ser só minha. O que me desperta a atenção por vezes, não se vê. Sinto que o que vos escapa, inibe tal vontade.

Ousem olhar o Diabo nos olhos, contemplá-lo e vociferar rancores desconhecidos, destruir os limites. Lutem contra o óbvio, desmontem a rotina e ajam com vontade, com garra, com determinação.

O mundo é o meu parque infantil.



Antigamente, tinha um quarto só para mim. O sol nascia, eu abria as janelas e depois abria e prendia as portadas da janela. Fazia a cama e vestia-me. Ao calçar-me, junto das minhas belas botas pretas e bem curvas na ponta apontando para o ar, via sempre um poema de Kipling que ali colara.

Ao lado também colada, tinha a mais bela tradução em Português que encontrei do mesmo poema. E espantem-se o mais incautos, a tradução parecia tão simples e óbvia, que nada se perdia do Inglês para o Português.

Nem todos os dias a li, mas todos os dias da vida me tem inspirado:




Ainda noutros tempos, mas em habitats diferentes, recordo os discos de vinil enquanto a minha avô engomava. Lembro-me de ouvir músicas que hoje significam muito mais, porque ali as ouvi.

O passado constrói-se hoje, isso é o que interessa recordar sempre. Deus reside nos detalhes assim como o Diabo se esconde em pormenores.

Não encontrei esta música pela voz do grande António Mourão, na versão que eu conhecia e ouvi centenas de vezes na minha juventude (para meu próprio espanto), mas aqui fica o testemunho possível desses inqualificáveis tempos.



Tenho tanto mais para dizer, para contar, quanto mais os anos passam. Mas teria então de mudar o título deste post para 1000 minutos, e deixar os sons ecoar dias fora, que as minhas palavras não valeriam o tempo de serem lidas.

Como ouso tentar resumir, peço ao tempo que volte para trás jamais, não me dês a vida que já vivi. A saudade que espere, não me tragam o que já tive, eu vivo para recordar, ainda que até o próprio sol, volte todas as manhãs! :)

Eu disse que ousaria.

Hoje mesmo, criem a oportunidade, ouçam serenamente com os ouvidos de quem escuta um grão de areia tombar, mas ouçam.. as vossas e nossas raízes, ouçam o vento, o beijo, o estalar da fogueira. Ouçam o mar, uma poesia.. ouçam novas palavras, o canto dos meninos ou das sereias, a vossa voz, as próprias estrelas.



"Almas vencidas, noites perdidas, sombras bizarras
na mouraria canta o rufia, choram guitarras.
Amor ciúme, cinzas e lume, dor e pecado.
Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado
Amor ciúme, cinzas e lume, dor e pecado.
Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado"

Assim se faz o passado.

Quando qualquer ser sublime se desvanece, outras entidades renascem. Amo a saudade, digo-te agora.

Vejo-vos regozijar em poças de lama, ufanos... (pausa para aceitar o facto de que o dicionário desconheça esta palavra... após bater com a cabeça três vezes na estante, consigo lidar com a situação e adicioná-la calmamente)... vejo-vos dizia, vociferar obscenidades em extremo fervor, e sabeis tão pouco quem sois. Reconheço-vos pelo olhar, pelo andar, pelo falar. Ah! Pelo falar sempre vos reconheci em todo o lado, desde criança que assim tem sido.

Está na hora, ouço pegadas aceleradas na minha direcção. Agita-se o ambiente, há algo no ar. Uma pequena cadelinha fica algo mais irrequieta. As moscas fervilham e esvoaçam mais rapidamente. O sonoro palpita calorosamente, já não há ruídos e isso é inspirador.

Um cavalo grande e negro, pasta aqui mesmo ao lado neste instante. Tenho um apito tão agudo no meu cérebro que mal ouço os cascos no chão rijo, poeirento e seco. Estou sentado a escrever, e só isso é real. Um apito também o é.. e os passos finalmente são concretizados, ouço-as bater, o som da fechadura que abre, um ou outro beijo, sem ruídos.

Lamento não terminar, não o sei ainda dizer. O tempo me trará algumas respostas e muito mais perguntas. Pairo sobre um oceano feio, cheio de amargura e azedume, onde o cheiro é fétido e putrefacto. Não sei mais sentir de forma diferente, pairo e não sei pousar. Não quero! Por vezes vislumbro algo belo, e aí me detenho por instantes.

Pairo sobre, distante, não sei nem quero descer, e embalo-nos numa melodia de harpa durante os momentos que partilhamos.





terça-feira, agosto 23

Corrosão

Janelas de percepção, projecções do infinito ante o meu olhar, espraiam-se em visões próximas, belas luzes, amores e cores fecundam um riacho seco, estalado da dor que tudo queima, abrandam o próprio tempo e fazem-me assim, ali, despender em contemplação sonhos tais, que ousam não terminar.

Percorro florestas densas, através do mato seco, das pastagens mortas pelo calor, que ora sobe, ora se abate sem clemência sobre mim. As provações são sucessivas, até se chegar ao horizonte. Alcanço a miragem finalmente! Meses se diluem nesta recompensa, sangue, suor e lágrimas agora são nada.

Diante de mim, ergue-se um castelo. Vejo uma entrada de pedra em forma de arco, rodeada por arbustos que jamais foram podados. Ao fundo, um lugar soturno desperta-me a curiosidade por breves instantes. O sino ecoa quando o vejo pela primeira vez. Não lhe toquei, talvez o vento seja o responsável. Passo o portão lentamente, como quem desconfia. E desconfio de tudo ali, das paredes, da pedra, das plantas por podar, do sino que toca sem razão, do vento e da porta.

Não bato - abro de uma vez a porta. Entro num magnífico Hall. Lustre encantado, rodeado por brilhantes estrelas, tapete vermelho sangue, velas por todo o lado, uma enorme escadaria e três portas.

O odor é delicioso e dou por mim no centro deste panorama, imaginando as maravilhas que se escondem por detrás de cada porta fechada que encontro. Do lado esquerdo, ouço ruídos e ali me dirijo sem demora. A surpresa é devastadora.

Nesta sala fétida, sentados em torno de uma mesa velha e escura, longe do canto da lareira e do bilhar, vejo claramente um pato, um urso, um touro e um druida, juntos, jogarem à sueca. O pato não tem penas, vê-se claramente que é astuto - não tem nada de pato, para além da aparência. Tem uns óculos que lhe dão um ar "patético". De pele rosada, crivada de pequenos orifícios, raízes de penas que lhe mancham todo o corpo. Joga bem, e faz par com o druida.
O druida, é somente um velhote pálido, assustador. Traja de branco a condizer com a barba. Sobre a sua cabeça paira um capuz bege. Com o olhar sempre baixo, e fala muito pouco. O touro e o urso, são caricatos por estarem sentados em bancos, mas são apenas um touro e um urso jogando em parelha à sueca. O urso cheio de pelo, como seria de esperar, existem sempre pelos a cair perto dele, pelos no ar, novelos no chão. O touro, musculado e negro, brilha sob a luz da lanterna.

Ouso aproximar-me, subir o degrau onde a insanidade nos espera. Faço-o ousadamente, não o digo para me sentir guerreiro, mas porque assim aconteceu.

A lanterna de querosene pingou quase sempre, enquanto o jogo decorreu. Parava por momentos, para as gotas pingarem ao contrário, para cima. A sua luz ali, era fraca mas muito adequada. Ante mim as cartas desfilavam e as palavras eram tão óbvias que nunca ali por nós foram ditas, e assim todos nos conhecemos profundamente. Não éramos todos iguais claramente... falo em nós.. eu sou o quinto elemento nesta história.

Desde então, nunca desci esse degrau, ouso permanecer no nível superior. Conheço-os profundamente, acompanham-me e não me irão deixar tão cedo.

Juntos, aproximamos-nos do Hall de entrada para descobrir o resto da miragem. Não nos podemos reter aqui por muito tempo. A próxima porta é-nos desconhecida. Nenhum de nós conhecia para além daquela sala e Hall.

Ousamos abri-la e percorremos um corredor longo.

Somos perseguidos por algo, julgo tratar-se de um felino altamente inteligente, mas ainda não o percebi, são as sombras que o denunciam a cada lanterna que passamos. Estas lanternas não pingam. O chão pinga para as lanternas, mas já todos estamos habituados.

Após algumas centenas de metros, sempre perseguidos por um ser ainda indefinido, surge finalmente uma porta ladeada por duas lanternas no fim do túnel.

Abro a porta, e deparamo-nos com o Hall de entrada.

Hum-mm... já eliminámos três portas, pensamos nós. Resta a escadaria e o estranho ser que nos persegue no escuro. Vamos avançar, para já juntos. Eu e o Druida à frente, os restantes vigiam a retaguarda. Somos bastantes, e temos do nosso lado a força da miragem. Todos a vimos, e ali nos encontramos a vivê-la!

Subimos triunfantes a escadaria. Esta enrolava-se sobre si mesma, e subia em elipse. Assim subimos nós, elipse acima vigiando a retaguarda, vigiando a frente com o despeito de quem sabe e quer subir mais um degrau, um de cada vez, elipse acima. Subimos centenas de metros, sem esmorecer, vendo a elipse crescer para os céus, lanternas suspensas no ar iluminando-nos o caminho escuro, à esquerda e à direita nada para nos amparar. Degraus sobre degraus até ao topo. Olhar para além dos degraus era um convite à loucura. O abismo para o Hall era cada vez mais assustador, até ao Hall se tornar num pequeno ponto vermelho que se vislumbrava por entre degraus ao longe. Assim, o risco de cair parecia menor, só existem degraus e nós, não há como nos enganarmos!

Esta provação teria sentido? Porquê subir? E porque não?

Degrau a degrau, juntos avançámos. Juntos subimos até ao topo. Terminava numa parede com uma passagem em arco. À frente, por entre as nuvens reparo num tear. De seguida dou comigo a observar uma armadura antiga. O pato está comigo, o druida fala com o urso acerca da nossa localização actual. O touro está completamente cansado. Subir escadas é mais difícil com cascos. Deseja uma cama e esta do nada surge. Ficamos pasmados enquanto o touro descansa!

Estamos muito perto dos Deuses, mas para já não vemos mais escadas.

sábado, agosto 20

I´ll Wander


The sun, it stripped me of truth.
There wasn't a thing I could do.
The moon shined with hope, but then bade me farewell,
So I chose to follow the blue.

And friends, they took what was theirs.
Then went on to making their plans.
They told me to grin as if pain were a sin,
So I left them standing back there.

Who needs a home when there so much to see
And so many things to do.
Lovers and friends, we'll meet once again
If wandering leads me to you.

And trees, they grow from the earth,
But sometimes they take to the sea.
No one could have known where they one day would be.
So come and wander with me.

Together we'll search for a place
And listen for the hidden sounds
Of wind, and dreams, and all pleasant things.
Come, let's wander around.

Who needs a home when there so much to see
And so many things to do.
Lovers and friends, we'll meet once again
If wandering leads me to you.

And old man sits on his roof,
Sleepily watching the world.
He wandered away all the years of his youth,
Now he's got something to hold.

Well man, I'll be just like you.
I'll see everything to see.
And maybe one day I'll settle to live
With someone who's loving me.
With someone who's loving me.

sexta-feira, julho 15

Time Awaits

Vim vomitar palavras - desejo que a silhueta que me enfrenta se desvaneça.

Sobre angústia agora.. não quero praguejar, pelo menos aqui e agora. Mas praguejava. Digo-vos, a batida parou de fazer sentido um destes dias.

E caem, recaem, e tornam a tombar. Devo espancar esta realidade?

O homem pequeno cumprimenta-me. Um bode espia junto à cerca, enquanto desfilo a 50km/hora. Se quisesse atropelava-os ambos.

Ao fim de pouco tempo, quero ir a casa e ficar a ver o mundo girar a partir do meu lugar.

Algo que se passa constantemente, num pérfido movimento perpétuo, uma amálgama de ideias gira, constrói-se e define-se. Ali jaz para nada, ali esmorece.

sábado, abril 30

Nightmare in Manchurai

Já não venho deixar algo aqui há muito tempo.. sei que os nossos milhões de leitores perdoarão esta crise artística, sendo que muitos terão também a delicadeza de perdoar o meu regresso.

Vejo o País em crise económica, política e de valores. Sei que hoje estamos mais perto de um caminho, é necessário reconhecer o problema para o resolver. Por outro lado, não sei se o estado desta nação ainda será um problema visto que os problemas só o são, quando existem soluções. Não me vou perder neste tema, prometo.

Ora a minha última missão apresentou-me outras formas de pensar e de actuar. O mau génio, afinal, abre uma pequena porta para a sensatez, por pouco racional que isso possa parecer. O segredo parece estar na dose, que para surtir semelhante efeito, deverá roçar o limite da paciência do interlocutor, mantendo contudo a boa-educação e uma interpretação acutilante da palavra.

Lembrei-me de falar sobre o acordo ortográfico, porque aqui escrevo no Português que a Professora Ascensão me ensinou. Não sou animal de manter muitos laços com o passado, mas espero no meu íntimo, que ela não saiba ensinar segundo os novos preceitos. Desejo saber Inglês, escrever Inglês e jamais aprender a perdoar a existência de mais um acordo ortográfico.

Ouço putos que já não têm fisgas brincarem, ouço crianças a correr sobre o asfalto em skates e grupos, meninas sem vergonha que trocaram as bonecas por enfeites tais que não existiam desta forma desprovida de valor, quiçá de sentido.

Ainda se corre, mas os motivos da pressa são outros. Agora ando zangado com os pombos que me sujam o carro e com o bolo estragado que me foi servido. Que bolo descarado!

O periquito também é um transtorno, ora está limpo ora não está. Pia muito durante o dia, especialmente se está sol.

À noite já não é tanto assim, e reservo uma hora para tratar do estranho ser que habita a minha sala. Se não estiver satisfeita, incha a barba e muda de cor. Dou-lhe espaço então, entendo perfeitamente a necessidade do bichito. Abastecer de água e minhocas, grilos vivos e agrião, dar injecções de cálcio(!!!!), controlar temperatura e humidade, limpar e alimentar o alimento(!).. amanhã haverá mais. Não me dá muito em troca, mas não ficou de dar. Esta frontalidade é importante no nosso relacionamento, e tem sido isso que fortaleceu a nossa ligação.

O hoje que vivo, devolve-me a simpatia que nunca lhe ofereci. Abraço-a com agrado, e com fervor. É-me indiferente quem passa, desde que o faça. Sempre imaginei um sentir diferente. Um baixo ecoa forte na paisagem. Em todas as paisagens se reflecte e ecoa. Adorno de ouvido mal parido, parte-me o juízo e envolve-me em desassossego.

Aguardo, escuto.

Sinto.